segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Alguém.

Alguém.

Que me faça cair em mim.
Que me faça pôr os pés no chão.
Que me faça viver a realidade.
Que destrua esta eterna ilusão.

Desilusão que só se sentia mas que agora também se vê.
Desilusão que começa nas razões da razão
e acaba nas misteriosas arritmias do coração.

Que inexistente alma é esta que a nada resiste?
Que corpo é este que nada pede,
a não ser a sua irracional destruição?
Destruir o quê se nada existe?
Se nada foi construido?

Construir, criar, essa é a única,
a minha única missão na vida,
mas quantos missionários não alcançaram os seus desejos indesejados por tantos e,
acabaram de peito aberto, cabeças e sonhos esventrados
pela mesquinhez de quem não quer ver a civilização chegar à sua erma existência?

Também eu me tornarei eremita de sonhos que viram pesadelos e,
nos pesadelos e nas insónias irei afundar-me
até ao dia incerto,
de mar revolto,
de tempestade imensa
em que verei as tuas mãos entrar na água e
sugarem-me, salvarem-me da escuridão.

No teu olhar, voltarei a ver o meu reflexo.
No teu olhar, onde até as sombras mais obscuras são refletidas.
Sombra que sou, sombra tua que serei.
Sombra duma luz mais forte, mais incandeante que mil sóis.

A tua luz,
a minha sombra,
finalmente, inseparáveis e fundidas
num só ser.